A Volta para Casa. (MH)

Capítulo 7

     Em toda essa viagem eu pude despertar para a vida e aprender muito a respeito das coisas erradas que havia feito até o presente momento. A verdade era que eu, como a maioria de nós, havia vivido a minha vida sem prestar muita atenção ao mundo à minha volta e as pessoas que estavam ao meu redor. Sempre fui uma pessoa muito bondosa de coração e jamais fiz absolutamente nada para prejudicar alguém por maldade, assim como a maioria de nós. Mas infelizmente nessa minha busca pela felicidade acabei magoando e prejudicando muitas pessoas. Agindo com egoísmo e pensando somente em minha felicidade e bem estar.
     A verdade que tenho aprendido a pouco tempo é que devemos sim pensar em nossa felicidade e bem estar, mas devemos pensar não somente em nós mas em todos que estão ao nosso redor. Pois existem 1001 maneiras de conquistarmos nossos sonhos e sermos felizes, ajudando o nosso próximo a conquistar o mesmo em sua vida. E quando agimos dessa maneira a nossa felicidade se torna ainda maior, pois todos ao nosso redor passam a irradiar a mesma felicidade que você está irradiando. Mas sabe como consegui aprender isso? Depois de muita dor e sofrimento, e de buscar a Deus para que Ele me abrisse os olhos para os erros que eu estava cometendo e me ensinasse uma nova forma de agir, pensar, viver, realizar. Uma forma baseada no Bem e no Amor ao Próximo.
     Depois de algumas semanas, quando já estava instalado em minha nova casa com meus dois cachorros, percebi verdadeiramente que estava em um lugar lindo e tranquilo e era simplesmente maravilhoso passear na areia da qual eram feitas todas as ruas com meus dois cachorros à noite. Tão tranquilo e quieto, e quando havia lua cheia não precisava nem de lanterna para passear à noite. Os cachorros faziam a festa correndo de um lado para o outro naquele monte de areia. Mas havia um problema que eu não me dei conta na época, pois havia também muitos bois e vacas que eram criados soltos e aonde têm esses animais, existe muito carrapato.
     Imaginem vocês: Eu, no meio do nada, aonde não haviam veterinários ou remédios acessíveis, com dois Goldens infestados de carrapatos! Havia dias em que eu tirava cerca 20 ou 30 carrapatos de cada um deles, por dia. E isso simplesmente não acabava! Parece que quanto mais eu tirava, mais havia no dia seguinte. Sem falar no fato de que eu pagava aluguel, fazia passeios, comprava comida, gasolina, etc, etc, etc. Meu dinheiro foi acabando pois eu não trabalhava e estava somente curtindo, até o dia em que depois de cerca de quatro meses eu já não tinha mais recursos. Tive que entregar a casa alugada em Jericoacoara e passar ainda um pouco de tempo em Fortaleza, aonde finalmente meu amigo me ensinou um remédio para acabar com os carrapatos dos cachorros. Mas nesse meio tempo eu fiquei quase desesperado com essa história, porém, saibam que ela ainda não acabou por aí.
     Quando eu cheguei de volta a Fortaleza, cerca de um mês depois, o casal de amigos que haviam ido comigo decidiram voltar para São Paulo, pois viram que as coisas de fato não deram certo conforme havíamos planejado e o dinheiro deles estava indo embora rapidamente. Eu ainda consegui persistir por dois ou três meses até que todo o meu dinheiro acabou e eu comecei a usar o limite do banco. Nessa hora eu ainda tinha o meu Buggy, que era a última coisa de valor que ainda me restava, além de minhas mudanças. Comecei a vender algumas coisas que sabia não iria usar e somente fariam peso na mudança de volta, mas que não deram para quase nada. Foi então que Deus me despertou, pois se eu não fizesse algo, não teria nem mesmo condições de voltar a São Paulo com aqueles dois cachorros. Liguei para o meu Pai e perguntei se ele me ajudava com o dinheiro da mudança, vendi meu Buggy com um aperto no coração, comprei a minha passagem de avião e paguei o frete dos cachorros, entreguei a casa e vim embora de volta para São Paulo. De mala, cuia, dois cachorros e minhas mudanças.
     Chegando aqui eu não tinha mais nada, nem mesmo roupa eu tinha direito, pois tinha me desfeito de minhas roupas de frio, afinal no Nordeste faz frio quando está 26°C. Não tinha dinheiro, casa, amigos, namorada, nada, nada, nada. A única coisa que me restava era um monte de mudanças que não valiam quase nada e meus dois cachorros. Mas graças dou pois ainda tinha uma coisinha que havia me restado. Na verdade eram duas coisinhas, que não eram somente coisinhas, eram duas coisonas!
     A primeira delas era o amor de meu pai, que nunca me abandonou, pois sempre que podia ia me visitar. Comprava coisas que eu estava precisando, me levou para comer pizza em uma pizzaria muito cara lá em Fortaleza no dia de meu aniversario e disse que iria mandar um carro que ele tinha na firma para mim lá em Fortaleza, mas eu disse que não precisava. Ele, mesmo do seu jeitão que dificilmente demonstra amor pelas pessoas, acho que a maioria dos homens é assim, mas por dentro parece uma manteiga derretida, nunca me deixou faltar nada.
     A segunda e a mais importante de todas, era Deus! Que hoje sei estava comigo o tempo todo nessa minha viagem. Porque hoje, refletindo sobre tudo o que passei, existiam momentos em que determinadas coisas não podiam ser explicadas.
     Certa vez por exemplo, quando eu estava sozinho em cima daquela Duna do Por do Sol com meus cachorros, eles começaram a brincar e minha fêmea começou a correr duna abaixo. Porém bem no final da duna havia um tronco enorme e ela estava tão depressa que não percebeu que a duna acabava e o chão ficava reto. Quando chegou ao final da Duna ela deu uma pancada tão forte com a pata no tronco que pudemos ouvir o barulho de muito, muito longe, e todos que estavam em cima da duna deram um grito e se assustaram. Muitos correram para socorrê-la achando que havia quebrado a pata ou algo pior; pois eu já vi pessoas e animais se machucarem muito feio com pancadas ou incidentes muito menores que aquele. Quando chegamos lá ela estava somente com a patinha levantada como se estivesse doendo e depois de alguns segundos começou a correr de novo que nem uma doidinha, como se nada tivesse acontecido. Há alguma explicação? E tantas outras coisas que me aconteceram na viagem que não tem explicação. Incidentes que eram para acabar mal, trazendo problemas e consequências sérias, mas que foram resolvidos calmamente, em Paz e Harmonia.
     E agora, com todos esses ocorridos aonde eu iria morar, se não tinha dinheiro nem para comer? Meu pai ofereceu para que eu pudesse morar em um quartinho que ele tinha nos fundos da empresa e eu prontamente agradeci. Com muita alegria em meu coração por ele estar oferecendo essa verdadeira ajuda a mim.
     Estava contente naquele momento, pois refletindo percebi que tudo aquilo tinha sido mesmo uma grande loucura. Como é que alguém em sã consciência larga tudo para ir a um lugar desconhecido e sem conhecer ninguém, com dois cachorros de raça grandes e espera que as coisas poderiam dar certo? Porém, por mais que houvesse tudo para dar errado, no final havia dado tudo certo. Estava feliz e satisfeito com tudo aquilo, pois tinha vivido a maior e melhor viagem e experiência de minha vida. E no final, apesar de eu não ter nada, havia vivido e aprendido muita coisa. Eu não sabia disso ainda, mas o tempo iria me mostrar o quanto isso era verdade. Mas essa calmaria em minha vida não duraria muito e após algum tempo, tudo iria mudar.
     Depois de devidamente instalado em minha nova casa nos fundos da empresa de meu pai, comecei a ficar inquieto e queria fazer alguma coisa pois nunca fui de ficar parado encostado em ninguém, meu pai me ajudava com um dinheirinho por mês mas eu não queria isso, pois nunca fui e não sou dessa maneira. Havia uma outra empresa que ele havia montado a pouco tempo e ninguém havia quem a administrasse, pois eles não tinham muito tempo. Havia uma moça que administrava a empresa mas não desempenhava o trabalho de acordo com o que eles esperavam e perguntei se poderia trabalhar lá administrando a empresa. Eles disseram que sim e eu comecei, muito feliz por conseguir novamente um emprego e ganhar meu dinheirinho para tentar limpar meu nome e reconstruir a minha vida. Essa era a vontade de Deus para a minha vida, pois esse meu novo emprego daria a mim futuramente muitas alegrias e Ele sabia disso, pois já estava tudo planejado por Ele. Mas infelizmente essa não era a vontade de todos e algumas semanas depois comecei a ter muitas surpresas aonde começaram a reaparecer muitas dificuldades em minha vida.
     Vocês se lembram quando eu disse que algum tempo depois eu iria me arrepender daquela minha decisão de ter morado em Jericoacoara? Pois assim que voltei de minha viagem e comecei a trabalhar, percebi que havia ficado um pouco mais ligado a Deus e comecei da minha maneira a buscar a Ele em orações, foi então que comecei a enfrentar problemas na empresa e um de meus cachorros começou a adoecer. Na verdade ele adquiriu lá no Nordeste uma doença muito comum que é transmitida por um mosquito chamada Leishmaniose e no cão não existe cura a não ser sacrificá-lo. (Pelo menos não pelo conhecimento do homem. Pois pude aprender posteriormente que para Deus tudo é possível e existe cura para absolutamente tudo. Basta que sejamos capazes de Crer e Dirigir a Ele uma oração, com sabedoria e intenção sinceras e verdadeiras.) E agora, o que eu iria fazer? Para aonde correr?

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